Fugir de mim implicaria esforço físico
E eu nunca fui fã de correr.
Escondi-me na minha carapaça
Tinha tanto medo de morrer.
Pudesse eu saber tudo de antemão,
Obsessiva necessidade de prever
Faria tudo ainda hoje
O que me impede de viver.
Rica menina, inteligente
Perspicaz, irreverente
Potencial desperdiçado
Na minha gruta permanente.
Ela podia ser alguém,
E à preguiça a atribuem,
Rezam que estaria mais além
E é só isso que concluem.
Pesa tanto a vergonha
De ficar sempre tão aquém,
Se perguntarem o meu nome
Digam que não sou ninguém.
Quero arrancar das entranhas
todas as ideias estranhas
Fruto do que me consome
E que por dentro me come.
Negro véu de ceticismo
Confunde-se com misticismo
Nada fala quem nada tem a dizer.
Juram que o meu secretismo
É oriundo do meu signo
Não há tamanha explicação,
E não é por ser escorpião
Que a minha cabeça é um sismo
E se torna apetecível estar tão perto do abismo.
Deus me perdoe o niilismo,
E a vocês o meu snobismo,
Tudo isto um eufemismo
Para a arte do não saber
O que realmente vai dentro
É uma tristeza e um lamento
Do qual não encontro alento
Tal qual fungo pestilento
Corpo já sem sustento
Mente sem discernimento
Foco negativo em detrimento
De um melhor funcionamento.
Falta-lhe empoderamento,
Faz-lhe falta o casamento,
Um diferente posicionamento,
E assim sem fundamento
Tudo opina sem perdão.
Ninguém pediu consentimento
Nem perguntou opinião.
Tudo falam, tudo dizem,
Sem ponta de arrependimento
Mas ainda ninguém percebeu
De que é feito o meu coração.
Não se assumindo como escritora, mas certamente não publicada, é na SACA que Marta Gomes, natural de Viseu, escolhe apresentar-se ao público. Psicóloga de formação, e amante de literatura em part-time, é através da escrita que procura fazer a sua catarse. Inspira-se nas emoções e experiências humanas - as suas, dos outros e do mundo em seu redor.